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terça-feira, 24 de julho de 2012

A Música Litúrgica e a Índole do Povo Brasileiro !




        A música é a arte de usar os sons, bem como os ruídos sonoros, desde a graciosidade de um cantar dos pássaros até a grandiosidade de uma orquestra filarmônica.  A música em todas as formas é uma manifestação da ação do Espírito que, enviado ao nosso coração para que se invoque ao Pai (cf. Rm 8,15), inspira os salmos, as aclamações e os hinos (cf. Ef 5,18-19) e nos sugere como devemos orar (cf. Rm 8,23.26-27).


        A música é um dado universal, ela faz parte da vida de todas as pessoas, e do povo brasileiro. A música é uma linguagem que expressa à vida humana em várias dimensões: psicológicas, social, cultural.... e acompanha o quotidiano das pessoas em circunstâncias diversas, como: lazer, diversão, festa, boates, clubes, terapia,  música ambiente (fundo musical em Shopping Centers), restaurantes, parques, música para ser escutada em concertos, shows etc.

        O ser humano faz uso da arte do som, da música e do canto para expressar os seus sentimentos mais profundos. Todos os povos, de todos os tempos, e de modo especial o povo brasileiro, expressam seus sentimentos através da música e do canto. A música religiosa surge a partir da cultura e das etnias, fazendo uso dos mais diversos instrumentos musicais. Proporcionando ao ser humano uma comunicação íntegra e verdadeira com Deus, tanto no âmbito individual como comunitário. Ninguém consegue viver sem nenhuma expressão musical, porque a música expressa o jeito de ser de todos os povos e culturas, fazendo-nos expressar os nossos sentimentos vividos, seja eles de alegria e tristezas, de saudade e nostalgia. A música ultrapassa as fronteiras de uma mera utilidade: ela tem o poder de influenciar os elementos humanos mais profundos e até de transformá-los, dependendo do movimento e da intensidade com que repercute no ser humano. Facilmente podemos passar da alegria à tristeza só pelo influxo da música que, às vezes inconsciente e imperceptível, invade o nosso ser mais profundo.

        A Conferência de Santo Domingo, constata: "Ainda não se dá atenção ao processo de um sã inculturação da liturgia. Isto faz com que as celebrações sejam, para muitos, algo ritualista e privado que não os leva à consciência da presença transformadora de Cristo e de seu Espírito, nem se traduz em compromisso solidário para a transformação do mundo" (cf. SD 43). Em relação aos indígenas, a Conferência de Santo Domingo propõe: "Promover uma inculturação da liturgia, acolhendo com apreço seus símbolos, ritos e expressões religiosas compatíveis com o claro sentido da fé, mantendo o valor dos símbolos universais e em harmonia com a disciplina geral da Igreja" (SD 248). Em relação aos afro-americanos, a mesma Conferência propõe: "A Igreja na América Latina e no Caribe quer apoiar os povos afro-americanos na defesa de sua identidade e no reconhecimento de seus próprios valores, como também ajudá-los a manter vivos seus usos e costumes compatíveis com a doutrina cristã e favorecendo a manifestação das expressões religiosas próprias de suas culturas" (cf. SD 249). "Temos de promover uma liturgia que, em total fidelidade ao espírito que o Concílio Vaticano II quis recuperar em toda sua pureza, busque, dentro das normas dadas pela Igreja, a adoção das formas, sinais e ações próprios das culturas da América Latrina e Caribe. Nesta tarefa, dever-se-á dar uma especial atenção à valorização da piedade popular, que encontra sua expressão especialmente na devoção à Santíssima Virgem, nas peregrinações aos santuários e nas festas religiosas, iluminadas pela Palavra de Deus" (SD 53). Além da inculturação nas várias etnias, não se pode esquecer o imenso desafio da inculturação no meio urbano e no meio dos pobres. A Igreja reunida em Puebla, afirma a necessidade de adaptar a liturgia às diversas culturas latino-americanas, bem como à situação dos jovens, dos pobres e dos humildes . Percebem no canto e na música litúrgica o caminho de atualizar essa situação opressora  no mistério Pascal de Cristo. Os bispos propuseram:

        Celebrar a fé com expressões culturais, obedecendo a uma sadia criatividade. Promover adaptações adequadas particularmente aos grupos étnicos e ao povo simples (grupos populares); atentando, porém, a que a liturgia não seja instrumentalizada para fins alheios à sua natureza.  Procurar-se-á, também, promover a música sacra, como serviço eminente que corresponde à índole dos povos latino-americanos.

        Em 1994, a Congregação para o Culto Divino, publicou o Directório sobre A Liturgia Romana e a Inculturação, que é a melhor reflexão e a norma mais concreta sobre o tema. A  inculturação é o termo preferido para designar o processo mais profundo pelo qual a liturgia e a cultura se enriquecem, dinâmica e mutuamente, a liturgia evangeliza e fecunda as culturas, e, ao mesmo tempo, deixa-se enriquecer pelas mesmas, para exprimir e celebrar o Mistério de Cristo encarnado na mentalidade de um povo. A inculturação é um processo que, inspirado na Encarnação de Cristo, se realizou continuamente na história da comunidade cristã, tanto na evangelização e na teologia como na celebração litúrgica. Foi um contínuo esforço de adaptação ao tempo, de progressiva encarnação, assumindo, assimilando, discernindo, transformando os valores culturais em que se moveu a comunidade cristã: quando do mundo cultural judaico se passou ao helénico, e depois ao romano, e, a seguir, ao dos povos bárbaros e assim sucessivamente, nos diversos povos e culturas.

        O papel central da música nos ritos consiste em revitalizar a substância sonora primordial que está na origem de cada ser humano e na sua cultura. Por meio do canto o ser humano  expressa:  o amor, o rancor, a ternura, a tristeza e tantos sentimentos que habita em seu espírito. E quando esses cantos são elevados a Deus, como expressão de nossa fé, manifestam nossa confiança, nossos desejos espirituais, nossas necessidades e nossas penitências, tornam-se uma forma de diálogo com Deus. A música, com suas matizes e gestos de cada etnia ou cultura, contém em si alguns valores que interiorizam e exteriorizam sentimentos. Com ela, uma palavra ou uma idéia se torna sentimento que passa a fazer parte do interior de todo ser humano. A música nos faz criar laços de comunhão, fazendo sair de nós mesmos e procurar comunicar com os outros, unindo a nossa voz aos demais, e expressa seus sentimentos num clima de concórdia que supera o individualismo, para entrar em sintonia com o comunitário. A música está enraizada na cultura e na vida das pessoas de modo que não podemos separa-la, pois ela nos liga ao transcendente, ao religioso, ao social e ao político. Ela envolve todo o nosso ser, mesmo quando nós não desejamos, ela tem a facilidade de nos conquistar, porque o nosso Criador nos fez cantando e por isso nós cantamos o seu amor e as maravilhas que ele realizou em nós dizendo: Obras do Senhor bendizei ao Senhor, louvai e exultai pelos séculos sem fim.

        Concluo afirmando: Se Deus é criador e criou todas as coisas, colocou nos seres criados o dom de louvar. Por isso, todo Universo louva a Deus Criador. A cachoeira canta ao cair nas pedras, nas ribanceiras; os ramos cantam e dançam ao sopro dos ventos uivantes; os pássaros cantam expressando a presença de Deus em nossas vidas. Por isso, o povo brasileiro  é feliz em fazer de suas vidas um eterno cantarolar, louvando, cantando e dançando ao Deus da Vida que fez e continuará fazendo parte da história do nosso povo. A música continuará ligando o ser humano ao seu Criador. Porque foi Ele mesmo quem criou as maravilhas do universo, para que todo ser criado por Ele, possa admirar suas obras maravilhosas e possa exaltar o seu Criador.

Pe. Marcos Reis dos Santos MS.




BIBLIOGRAFIA DE PESQUISA
TEIXEIRA, Nereu de Castro. Comunicação na liturgia. p. 71.
Cf. MARTIN, Julián Lopez. Canto Y música el la liturgia: punto de vista teológico. pp. 208-209.
Terapia  Música usada com finalidade terapêutica, assim chamada de musicoterapia.
FONSECA,Joaquim. O canto Novo da Nação do Divino. Op. cit. p. 19.
BECHKAUSER,Frei Aberto. Cantar a Liturgia. p. 13.
CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA, n. 889.


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