A música é a arte de usar os sons, bem como
os ruídos sonoros, desde a graciosidade de um cantar dos pássaros até a
grandiosidade de uma orquestra filarmônica. A música em todas as formas é
uma manifestação da ação do Espírito que, enviado ao nosso coração para que se
invoque ao Pai (cf. Rm 8,15), inspira os salmos, as aclamações e os hinos (cf.
Ef 5,18-19) e nos sugere como devemos orar (cf. Rm 8,23.26-27).
A música é um dado universal, ela faz parte
da vida de todas as pessoas, e do povo brasileiro. A música é uma linguagem que
expressa à vida humana em várias dimensões: psicológicas, social, cultural....
e acompanha o quotidiano das pessoas em circunstâncias diversas, como: lazer,
diversão, festa, boates, clubes, terapia, música ambiente (fundo musical
em Shopping Centers), restaurantes, parques, música para ser escutada em
concertos, shows etc.
O ser humano faz uso da arte do som, da
música e do canto para expressar os seus sentimentos mais profundos. Todos os
povos, de todos os tempos, e de modo especial o povo brasileiro, expressam seus
sentimentos através da música e do canto. A música religiosa surge a partir da
cultura e das etnias, fazendo uso dos mais diversos instrumentos musicais.
Proporcionando ao ser humano uma comunicação íntegra e verdadeira com Deus,
tanto no âmbito individual como comunitário. Ninguém consegue viver sem nenhuma
expressão musical, porque a música expressa o jeito de ser de todos os povos e
culturas, fazendo-nos expressar os nossos sentimentos vividos, seja eles de
alegria e tristezas, de saudade e nostalgia. A música ultrapassa as fronteiras
de uma mera utilidade: ela tem o poder de influenciar os elementos humanos mais
profundos e até de transformá-los, dependendo do movimento e da intensidade com
que repercute no ser humano. Facilmente podemos passar da alegria à tristeza só
pelo influxo da música que, às vezes inconsciente e imperceptível, invade o
nosso ser mais profundo.
A Conferência de Santo Domingo, constata:
"Ainda não se dá atenção ao processo de um sã inculturação da liturgia.
Isto faz com que as celebrações sejam, para muitos, algo ritualista e privado
que não os leva à consciência da presença transformadora de Cristo e de seu
Espírito, nem se traduz em compromisso solidário para a transformação do
mundo" (cf. SD 43). Em relação aos indígenas, a Conferência de Santo
Domingo propõe: "Promover uma inculturação da liturgia, acolhendo com
apreço seus símbolos, ritos e expressões religiosas compatíveis com o claro
sentido da fé, mantendo o valor dos símbolos universais e em harmonia com a
disciplina geral da Igreja" (SD 248). Em relação aos afro-americanos, a
mesma Conferência propõe: "A Igreja na América Latina e no Caribe quer
apoiar os povos afro-americanos na defesa de sua identidade e no reconhecimento
de seus próprios valores, como também ajudá-los a manter vivos seus usos e
costumes compatíveis com a doutrina cristã e favorecendo a manifestação das
expressões religiosas próprias de suas culturas" (cf. SD 249). "Temos
de promover uma liturgia que, em total fidelidade ao espírito que o Concílio
Vaticano II quis recuperar em toda sua pureza, busque, dentro das normas dadas
pela Igreja, a adoção das formas, sinais e ações próprios das culturas da
América Latrina e Caribe. Nesta tarefa, dever-se-á dar uma especial atenção à
valorização da piedade popular, que encontra sua expressão especialmente na
devoção à Santíssima Virgem, nas peregrinações aos santuários e nas festas
religiosas, iluminadas pela Palavra de Deus" (SD 53). Além da inculturação
nas várias etnias, não se pode esquecer o imenso desafio da inculturação no
meio urbano e no meio dos pobres. A Igreja reunida em Puebla, afirma a
necessidade de adaptar a liturgia às diversas culturas latino-americanas, bem
como à situação dos jovens, dos pobres e dos humildes . Percebem no canto e na
música litúrgica o caminho de atualizar essa situação opressora no
mistério Pascal de Cristo. Os bispos propuseram:
Celebrar a fé com expressões culturais,
obedecendo a uma sadia criatividade. Promover adaptações adequadas
particularmente aos grupos étnicos e ao povo simples (grupos populares);
atentando, porém, a que a liturgia não seja instrumentalizada para fins alheios
à sua natureza. Procurar-se-á, também, promover a música sacra, como
serviço eminente que corresponde à índole dos povos latino-americanos.
Em 1994, a Congregação para o Culto Divino,
publicou o Directório sobre A Liturgia Romana e a Inculturação, que é a melhor
reflexão e a norma mais concreta sobre o tema. A inculturação é o termo
preferido para designar o processo mais profundo pelo qual a liturgia e a
cultura se enriquecem, dinâmica e mutuamente, a liturgia evangeliza e fecunda
as culturas, e, ao mesmo tempo, deixa-se enriquecer pelas mesmas, para exprimir
e celebrar o Mistério de Cristo encarnado na mentalidade de um povo. A
inculturação é um processo que, inspirado na Encarnação de Cristo, se realizou
continuamente na história da comunidade cristã, tanto na evangelização e na
teologia como na celebração litúrgica. Foi um contínuo esforço de adaptação ao
tempo, de progressiva encarnação, assumindo, assimilando, discernindo,
transformando os valores culturais em que se moveu a comunidade cristã: quando
do mundo cultural judaico se passou ao helénico, e depois ao romano, e, a
seguir, ao dos povos bárbaros e assim sucessivamente, nos diversos povos e
culturas.
O papel central da música nos ritos consiste
em revitalizar a substância sonora primordial que está na origem de cada ser
humano e na sua cultura. Por meio do canto o ser humano expressa: o
amor, o rancor, a ternura, a tristeza e tantos sentimentos que habita em seu
espírito. E quando esses cantos são elevados a Deus, como expressão de nossa
fé, manifestam nossa confiança, nossos desejos espirituais, nossas necessidades
e nossas penitências, tornam-se uma forma de diálogo com Deus. A música, com
suas matizes e gestos de cada etnia ou cultura, contém em si alguns valores que
interiorizam e exteriorizam sentimentos. Com ela, uma palavra ou uma idéia se
torna sentimento que passa a fazer parte do interior de todo ser humano. A
música nos faz criar laços de comunhão, fazendo sair de nós mesmos e procurar
comunicar com os outros, unindo a nossa voz aos demais, e expressa seus
sentimentos num clima de concórdia que supera o individualismo, para entrar em
sintonia com o comunitário. A música está enraizada na cultura e na vida das
pessoas de modo que não podemos separa-la, pois ela nos liga ao transcendente,
ao religioso, ao social e ao político. Ela envolve todo o nosso ser, mesmo
quando nós não desejamos, ela tem a facilidade de nos conquistar, porque o
nosso Criador nos fez cantando e por isso nós cantamos o seu amor e as
maravilhas que ele realizou em nós dizendo: Obras do Senhor bendizei ao Senhor,
louvai e exultai pelos séculos sem fim.
Concluo afirmando: Se Deus é criador e criou
todas as coisas, colocou nos seres criados o dom de louvar. Por isso, todo
Universo louva a Deus Criador. A cachoeira canta ao cair nas pedras, nas
ribanceiras; os ramos cantam e dançam ao sopro dos ventos uivantes; os pássaros
cantam expressando a presença de Deus em nossas vidas. Por isso, o povo
brasileiro é feliz em fazer de suas vidas um eterno cantarolar, louvando,
cantando e dançando ao Deus da Vida que fez e continuará fazendo parte da
história do nosso povo. A música continuará ligando o ser humano ao seu
Criador. Porque foi Ele mesmo quem criou as maravilhas do universo, para que
todo ser criado por Ele, possa admirar suas obras maravilhosas e possa exaltar
o seu Criador.
Pe. Marcos Reis dos Santos MS.
BIBLIOGRAFIA DE PESQUISA
TEIXEIRA, Nereu de Castro. Comunicação na liturgia. p. 71.
Cf. MARTIN, Julián Lopez. Canto Y música el la liturgia: punto de vista
teológico. pp. 208-209.
Terapia Música usada com finalidade terapêutica, assim chamada de
musicoterapia.
FONSECA,Joaquim. O canto Novo da Nação do Divino. Op. cit. p. 19.
BECHKAUSER,Frei Aberto. Cantar a Liturgia. p. 13.
CONCLUSÕES DA CONFERÊNCIA DE PUEBLA, n. 889.
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